Foi Benveniste quem traçou uma nítida separação entre o semiótico e o semântico. O primeiro é uma propriedade de uma língua; o segundo, uma atividade do falante que aciona essa língua. O valor semiótico existe em si mesmo, mas não justifica, porém, usos específicos; a expressão semântica, no entanto, é pura particularidade. Podemos transmitir a espessura semântica de uma língua a outra. Estamos salvos: a tradução é possível. Mas não cabe transpor a densidade semiótica entre línguas. Não há saída: a tradução é impossível. Walter Benjamin escreveu sobre a tarefa do tradutor. Chamou-a de renúncia. Osip Mandel'stam evitou-a e mesmo desprezou-a, assumindo-a, negativamente. Entre condensação e deslocamento, Davi Pessoa se passeia, nestes luminosos ensaios, constantemente, por esses extremos de tempos e espaços de tradução generalizada, como a chamaria Michel Deguy, definindo assim inúmeros Anacronismos, que nada mais são do que ensaios de arte, literatura e filosofia de exceção.
Raul Antelo