Existem muitas bruxas pintadas no imaginário coletivo e a personagem de A Bruxa Margaret, ao mesmo tempo em que faz parte dessa tradição, traz o seu próprio toque a esse universo. A graphic novel surgiu a partir do interesse do ator e escritor Jim Broadbent (de Harry Potter e Game of Thrones) pela figura de Dulle Magriet, em um quadro de mesmo nome de Pieter Bruegel, o Velho, de 1536. Mas mesmo antes da pintura, já existia a lenda flamenga sobre Magriet (ou Margaret), uma mulher geralmente associada a demônios e feitiçaria. A partir dessa inspiração, Broadbent e o desenhista britânico Dix desenvolvem uma história em que o caráter humano da personagem transcende o mito. Em A Bruxa Margaret pouco é definido, o que potencializa o estilo de desenho, enquanto as cores pálidas mostram que não se trata de um mundo de preto e branco, com rígidas definições de certo e errado. Como boa história em quadrinhos que é, emprega os recursos visuais para narrar os eventos, ao mesmo tempo que o texto, ambíguo e dissonante, amplia as possibilidades de percepção do enredo. Broadbent e Dix aprofundam a personagem ao mostrar seu discurso impreciso, suas ações erráticas, seu ambiente caótico. A bruxaria continua lá, mas Margaret muda o papel que desempenha nas lendas. Aqui, ela é uma humana, que mora em um lugar isolado e sombrio, e tenta sobreviver com a venda de enguias na feira. Tudo isso, é claro, com a manifestação da magia e do entendimento muito singular que Margaret tem sobre si mesma e realidade do mundo ao seu redor. Aberto a diversas interpretações, A Bruxa Margaret é um livro que incentiva a releitura, não pela incompreensão de sua trama e sim por oferecer muito mais que apenas um lado da história.