Sensível e deslumbrante. Muitos ângulos para abordar uma dor que vive entre nós.
Karmen tem o cabelo cor-de-rosa, sardas no rosto e usa um maiô de esqueleto. Ela é uma espécie de anjo da guarda e faz parte de um grupo de seres que guiam os mortos para a sua próxima vida. Catalina é uma jovem que, em um momento de solidão, fragilidade e desespero, tenta o suicídio.
É quando as duas se conhecem, e Karmen vai lhe conduzir em uma jornada de autodescoberta, aprendizado e compaixão. No limbo, Catalina pode fazer o que sempre fantasiou, mas nunca ousou tentar, inclusive loucuras, como bisbilhotar a vida alheia e - já que não está sujeita às leis da física -aproveitar para experimentar novas sensações, como voar ou mergulhar no tempo que quiser, enquanto os vivos já não conseguem mais vê-la.
Nesta fantasia moderna, o quadrinista espanhol Guillem March aborda o delicado tema do suicídio de maneira terna e bem-humorada. Karmen se revela uma história repleta de reviravoltas intrigantes e reflexões metafísicas, por vezes onírica, que mergulha profundamente em assuntos importantes com surpresa e delicadeza, e que poucas vezes recebem uma representação repleta de dignidade e compaixão.
Conhecido por seu trabalho anatômico e criativo para a DC Comics em Batman, Mulher-Gato e Coringa, Guillem March realiza em sua primeira obra individual de fôlego um trabalho primoroso, sutil e ao mesmo tempo comovente, ao abordar um assunto importante e por vezes estereotipado em algumas representações artísticas. Iremos acompanhar e descobrir o que teria levado a protagonista a uma atitude tão extrema. É quando as duas partem em uma viagem surreal e onírica literalmente voando pela cidade, que também é protagonista da história.
A arte inventiva e deslumbrante de March conduz a dupla e o resultado é pura magia. É nessa jornada que Cata vai conhecer melhor a si mesmo e também as pessoas queridas em sua vida e refletir sobre aquilo que realmente importa. E, quem sabe, ter a oportunidade de rever suas opiniões e seus erros. Uma tocante história de redenção, que todos merecem ter a oportunidade de viver.