A nova edição de Contos plausíveis reúne histórias curtas marcadas pelo olhar irônico e sensível de Carlos Drummond de Andrade. Com novo projeto gráfico e posfácio inédito de João Anzanello Carrascoza, os contos cheios de humor seguem sendo uma leitura atual e indispensável.
Um homem busca nos classificados de jornal a própria alma perdida; o menino Paulo é diagnosticado como poeta por mentir demais; convivendo com duas sombras, Meneses se torna "polo turístico" de sua cidade; uma mesa adquire o dom da fala após servir mais de vinte anos aos trabalhos de um médium.
Esses são alguns dos motes e tipos que compõem os espirituosos Contos plausíveis, publicados originalmente na coluna de Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil e reunidos em livro pela primeira vez em 1981. Acostumado a transformar o mundo em poesia, Drummond conta grandes histórias de maneira minimalista, exercitando-se no miniconto, um gênero à época pouco usual na literatura brasileira.
Mas o conto drummondiano nasce metamorfoseado: é meio crônica, meio fábula; tem toques de anedota e de "causo". Textos em tom de conversa, recheados de humor, em que a tão propalada ironia do escritor mineiro vai longe.
Drummond joga sua observação no liquidificador da fabulação e dá vida a ficções que dialogam com a realidade daquele tempo, mas permanecem atuais. Por outro lado, algumas histórias são totalmente alegóricas, como "A fala vegetal", em que um jardim é transformado numa espécie de Torre de Babel das plantas.
A observação do cotidiano e o embate entre vida moderna e tradição, traços da poética do autor, também estão presentes nessas saborosas histórias, nas quais os personagens nem sempre acompanham as transformações do tempo. Poeta maior, nesta rara incursão pela prosa de ficção, Drummond mostra que os gêneros literários não o definem.
"Neste caudaloso volume de preciosidades, irrompe não só a ampla imaginação ficcional de Drummond, mas, sobretudo, a sua capacidade de observar a vida cotidiana, prosaica e ordinária, e, a partir dela, encontrar a matéria-prima de suas tramas concentradas, de poderoso impacto." - João Anzanello Carrascoza, para o posfácio de Contos plausíveis.